329 anos do nascimento de Nicolau Nasoni e os 288 anos da colocação da primeira pedra da Igreja dos Clérigos

Hoje, dia 2 de junho, celebramos dois acontecimentos, os 329 anos do nascimento de Nicolau Nasoni, e os 288 anos da colocação da primeira pedra daquela que viria a ser a obra mais emblemática do arquiteto do Porto, a Igreja dos Clérigos.

A tarde do dia 2 de junho de 1732, ficaria marcada pela realização da cerimónia solene da colocação da primeira pedra nos alicerces da obra da futura Igreja dos Clérigos. A festa de solenização dedicada a tão esperado momento, tinha iniciado na noite anterior, com a colocação de luminárias nas casas de todos os irmãos da nobilíssima Irmandade dos Clérigos, mas também em muitas casas particulares, e ainda nas comunidades religiosas do Mosteiro de São Bento de Avé-Maria, do Real Recolhimento do Anjo, e do Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça. Nessa mesma noite e no dia seguinte, repicaram os sinos na Catedral, sendo seguidos nos demais mosteiros e igrejas da cidade do Porto, manifestando o grande gosto, e alegria que tinham na construção da nova igreja.

Para esta cerimónia, foi criada pelo arquiteto Nicolau Nasoni, uma construção efémera, assim descrita:

«Sumptuosas luminárias feitas no sítio da mesma igreja as quais com luzes furtadas, e pinturas de perspetiva feitas com todo o primor da arte por Nicolau Nasoni insigne pintor arquiteto da mesma obra, as quais pinturas formavam um vistoso arco onde havia de ser a porta principal da igreja, no qual, se via uma bem pintada tarja com as armas desta nobre irmandade, acompanhando a toda esta máquina dos lados várias pinturas todas jeroglíficos da pureza da Virgem Senhora Nossa com seus títulos, que bem explicavam e mostravam todas estas pinturas todo o frontispício da nova igreja na forma e arquitetura assombrada, e realçada na forma que havia de ser, importando as luzes que nele estavam mais de cinco mil, e quinhentas, mostrado ao povo a mais vistosa perspetiva, que até aquele tempo já mais se tinha visto, e também por toda a quadra do muro da cidade correspondente ao sítio da igreja, se viam também muitas luzes (…)»[1].

 

Eram quatro horas da tarde quando começaram a sair em majestosa procissão, da Igreja da Misericórdia, na rua das Flores, todos os presentes, sendo estes, a maior parte dos religiosos de todas as comunidades, toda a nobreza da terra, e as mais distintas pessoas.

A cruz da Irmandade dos Clérigos abria a procissão, do lado direito seguia o deão da Sé D. Jerónimo de Távora Noronha Leme e Cernache, e do lado do esquerdo, o Cónego Magistral Manuel dos Reis Bernardes, ambos como Presidentes que tinham sido da Irmandade.. Cumprindo os estatutos, seguiam-se duas alas, a dos irmãos todos vestidos de sobrepelizes, os religiosos e seus prelados, e a de toda a nobreza e os cavaleiros da Ordem de Cristo, e as demais distintas pessoas.

No final da procissão iam os irmãos da Mesa da Irmandade, acompanhando com as suas tochas o andor de Nossa Senhora da Assunção, vistosamente ornamentado, e aos pés da imagem da Senhora, servindo-lhe de trono, ia a primeira pedra que se havia de lançar nos alicerces. A descrição da pedra revela o primor com que toda a cerimónia foi realizada:

«Teria em quadra palmo e meio toda primorosamente dourada, e levava aberta na parte superior o dia, e era em letras douradas abertas ao cinzel que deixavam, e davam a ver o que diziam, que era na forma seguinte: em 2 de junho de 1732 anos»[2].

Num ambiente de grande aparato cenográfico, com a colocação das melhores tapeçarias nas janelas das casas, e os muros da muralha, ornados com vários e custosos cobertores, foi majestosamente transportada a primeira pedra até ao sítio da nova Igreja, tal como é documentado:

«E por cima dela se assentou a primeira pedra, que o Reverendo Mestre Escola primeiro caldeou, e depois o Arquiteto Dom Nicolau Nasoni, e se cobriu com outra maior pedra, que juntamente se caldeou e feitas todas estas cerimónias com a solenidade devida, e maior pompa já nesta cidade mais vista, se tornou a recolher a mesma Irmandade à Santa Casa»[3].

 

O ambiente vivido comoveu todos os que assistiam à cerimónia, que terá sido a mais impressionante do género realizada na cidade do Porto, até então.

 

 

[1] PT/ICPRT/IC/A/0019, Livro das Obras, (1731-05-31 a 1827-07-17) (Produção), fl. 18v. (Nº 16).

[2] PT/ICPRT/IC/A/0019, Livro das Obras, (1731-05-31 a 1827-07-17) (Produção), fl. 19. (Nº 16).

[3] PT/ICPRT/IC/A/0019, Livro das Obras, (1731-05-31 a 1827-07-17) (Produção), fl. 20. (Nº 16).

Notícias e Eventos